Escrevi esse prefácio do meu livro, mesmo não sabendo do que se trata, chamou sua atenção?
— Vamos morrer!
A voz cortou o caos como uma lâmina, atravessando o som ensurdecedor dos tiros e explosões. O olhar permaneceu fixo no painel holográfico à frente. Não havia espaço para distrações enquanto os dedos corriam desesperadamente, tentando decifrar o código que desativaria os drones inimigos.
Os gritos ao redor não ajudavam. Sangue, metal e fumaça tomavam conta de tudo. O desespero se espalhava pelo campo de batalha como uma doença, mas havia apenas um objetivo: terminar. Se aquilo não fosse concluído, todos estariam mortos.
— Alden, é agora ou nunca! — O capitão gritou, sua voz carregada de autoridade e desespero.
A mensagem era clara. Não havia mais tempo. Mas, por algum motivo, o mundo parecia desacelerar. A máquina piscava com o código ainda incompleto. As mãos tremiam, mas parar não era uma opção. Não agora.
Uma explosão rasgou o ar. O impacto veio antes mesmo de qualquer reação, jogando o corpo para trás. A dor atravessou o lado esquerdo, aguda e fria. O chão parecia um peso, prendendo qualquer tentativa de se mover. O dispositivo estava ali, ao alcance dos dedos, piscando fracamente. Quase como o meu próprio corpo.
Os sons dos tiros pareciam distantes. Uma voz chamou ao longe — talvez o capitão, talvez ninguém. Não fazia diferença agora. O mundo começou a apagar e, estranhamente, isso não trouxe medo.
Na verdade, parecia… tranquilo.
No vazio, o tempo não existia. Não havia dor, nem som, nem luz. Apenas uma quietude que invadia tudo, como uma brisa silenciosa. E então, o sussurro.
— Alden.
A voz era suave, quase gentil. Mas algo nela fez o corpo estremecer. Não houve resposta. Não era certo se havia capacidade ou vontade de responder. Tudo parecia tão distante, como se o próprio corpo fosse apenas uma casca observada à distância.
A voz retornou, mais clara desta vez.
— Eu sou Nyn. Não se preocupe, vim para ajudar.
Algo se movia dentro da mente. Não era um pensamento, mas uma presença. Uma intrusão, como se lugares desconhecidos estivessem sendo vasculhados. Uma força resistiu, tentando afastar aquilo, lutar contra aquilo.
— Saia daqui. — A voz soou na própria mente, mas parecia pequena e fraca, quase insignificante.
O sussurro hesitou, mas não desapareceu. Em vez disso, havia algo que parecia… um sorriso. Não era possível compreender como, mas o sorriso foi sentido. E então veio o calor. Acolhedor, quase confortável. Por um instante, a entrega parecia tentadora. Mas a raiva surgiu logo em seguida. Aquilo não era real. Não podia ser.
— Sua dor é profunda, deixe-me trazer sua paz.
Paz. A palavra trouxe fúria. Aceitar paz daquela forma não era uma opção.
— Não preciso de você. Não quero paz.
O calor desapareceu como uma chama se apagando. O vazio retornou, mais frio do que antes, e os lábios tremiam sob o gelo que parecia tomar conta de tudo. Mesmo assim, a presença permanecia. Silenciosa. Observando. Esperando.
Os olhos se abriram, mas a luz não estava lá. Algo havia mudado, algo que não fazia sentido, mas era impossível ignorar.
No fundo, a certeza crescia como uma sombra. Aquilo não era só sobre este momento. Era maior. Muito maior.
O pior ainda estava por vir.